Quando vale a pena usar resina virgem ou reciclada? (Parte 2)
7 dicas para selecionar um bom fornecedor a nível técnico
1) Indústria e/ou comércio?
Alguns fornecedores apesar de terem sua razão social como indústria e comércio, muitas vezes são apenas comércios. Evite esse tipo de empresa para compra de material reciclado, pois você estará colocando um intermediário na compra que vai precisar recorrer ao verdadeiro reciclador caso tenha problemas com o material, o que vai gerar uma boa perda de tempo.
2) Estoque
Desconfie de recicladores que não mantenham um bom estoque de moído ou sucata em peça, o reciclador precisa de materiais para montar fórmulas e corrigir seus produtos rapidamente, o que não é possível se ele tentar “simular” a implantação de um just-in-time. A idéia de manter baixos níveis de estoque só é vantajosa para transformadores, não para recicladores, lembre-se disso!
3) Controle de qualidade
Um bom reciclador deve ter um laboratório com os seguintes equipamentos:
PARA POLIAMIDAS: mufla, determinador de umidade, determinador de ponto de fusão, injetora de laboratório, máquina de resistência ao impacto.
PARA OUTROS PLÁSTICOS: injetora de laboratório, máquina de resistência ao impacto, índice de fluidez, determinador de umidade e colorímetro/espectrofotômetro caso trabalhe com cores.
Algumas empresas não têm laboratório ou os equipamentos e mesmo assim inventam ou copiam laudos que não condizem com a realidade do produto, cuidado!
Laboratório para análise de plásticos
4) Suporte técnico
Verifique o nível de conhecimento técnico dos vendedores, às vezes você pode precisar de ajustes simples no material como acréscimo de carga, modificação de impacto etc e nesse caso é necessário alguém com esse conhecimento para te dar um suporte.
5) Controle de contaminações
Veja se o reciclador recebe materiais contaminados (com outros plásticos) e quais são os métodos utilizados para realizar a descontaminação. A empresa deve possuir pessoal capacitado para identificar rapidamente os diversos tipos de plásticos através da queima, do corte, do peso etc.
Alguns recicladores já compram sua matéria-prima moída, pronta para ser granulada, isso pode dificultar a verificação se ele não tiver um laboratório ou se não realizar testes na matéria-prima, já que é mais difícil realizar uma inspeção visual nessas condições. O ideal é que o próprio reciclador faça a moagem das peças e/ou borras, retirando do processo aquelas que estiverem contaminadas.
6) Variedade de produtos
Possuir diversas variações de um produto pode indicar um reciclador que tem total controle sobre sua produção, conseguindo modificar características do material de acordo com as necessidades do cliente.
Ex:
O reciclador tem os seguintes produtos:
ABS A1 PRETO – abs para extrusão
ABS A2 PRETO – abs de fluidez média para uso geral
ABS A3 PRETO – abs de fluidez alta para injeção de peças de parede fina
No exemplo acima supõe-se que ele consiga controlar o índice de fluidez do ABS, mas e se ele tivesse apenas uma resina chamada ABS PRETO? Poderíamos supor que o ABS recebido de qualquer fonte pelo reciclador seria chamado pelo mesmo nome podendo ter qualquer índice de fluidez, tendo portanto, qualidade inferior.
7) Capacidade de produção
A reciclagem pode ser um processo demorado onde uma extrusora pode produzir desde 50kg/h até ultrapassar os 500kg/h. Recomenda-se verificar esse quesito para ter certeza que o fornecedor é capaz de te atender sem atrasos nos pedidos devido a gargalos na produção, mesmo porque, acontece do fornecedor “não lembrar” disso na hora de vender!
Em que aplicações eu posso usar plástico reciclado?
Generalizando podemos dizer que peças estéticas devem usar plástico virgem enquanto peças mecânicas podem usar o reciclado, mas vamos nos aprofundar nesse assunto agora dando alguns exemplos de peças.
a) Peças espelhadas
Geralmente são carcaças de eletroeletrônicos feitas em ABS. Recomenda-se usar material novo nesse tipo de peça, pois eventualmente o reciclado pode conter algumas impurezas como borracha, tinta e metais, todos na forma de partículas minúsculas, mas que acabam ficando bem visíveis a olho nu em peças planas e espelhadas.
b) Carcaças de eletrodomésticos texturizadas
Nesse caso já pode ser usado o material reciclado sem problemas já que ocorre a quebra do fluxo do polímero na superfície do molde, sem que existam diferenças nos aspecto visual em comparação com a resina nova.
c) Peças automotivas
Dentro de um carro existem várias peças feitas com plástico reciclado, principalmente poliamidas (partes mecânicas) e ABS (partes internas).
O fato de uma peça automotiva estar sujeita a altas temperaturas e contato com óleo e outros fluidos não diminui a possibilidade da aplicação do plástico reciclado, mesmo porque não existe perda significante de resistência química ou ao calor durante a reciclagem.
d) Peças antichama
Os plásticos reciclados também podem receber aditivos antichama e obter o mesmo desempenho de um plástico novo tendo um ótimo custo-benefício.
e) Área médica
Usar apenas material novo.
f) Brinquedos, utilidades domésticas
Independente de usar material novo ou reciclado recomenda-se pedir ao fornecedor um laudo comprovando a ausência de metais pesados, comum na formulação de pigmentos em alguns países. Estando dentro das conformidades, o reciclado pode substituir o novo nessas aplicações também.
Cuidado com substâncias perigosas
Ao contrário da resina virgem, a reciclada possui várias substâncias que não fazem parte de seus monômeros em sua composição. Algumas dessas substâncias como o cádmio e o chumbo (metais pesados) são consideradas perigosas e são proibidas em certos países, sobretudo na União Européia através da diretiva RoHS.
Para a comercialização de materiais nesses países ou até mesmo onde não exista legislação sobre o assunto, recomenda-se enviar o material a um laboratório que faça a análise de espectroscopia por fluorescência de raio X para detectar as substâncias presentes.
Já viu a primeira parte desse artigo?
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Bibliografia:
HARPER, Charles A.; PETRIE, Edward M. Plastics Materials and Process: A Concise Encyclopedia. Hoboken: John Wiley & Sons, Inc., 2003.
WIEBECK, Hélio; HARADA, Júlio. Plásticos de Engenharia: Tecnologia e Aplicações. São Paulo: Artliber Editora, 2005.
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